Postado por Marcos Assis | | Posted On segunda-feira, 16 de maio de 2011 at 14:18



Artista – Ira!
Álbum – Psicoacústica
Ano de lançamento - 1988


O Ira! talvez tenha sido a maior banda de rock and roll, na exatidão da palavra, da história do rock brasileiro. Com um som direto e cru, muito bem desenhado pela linha melódica da banda, o talento do guitarrista Edgar Scandurra, um dos mais criativos do país, saltava à frente.

No seu terceiro disco, o Ira! tomou a decisão de abdicar de um produtor para o trabalho. Apenas os integrantes e o engenheiro de som português Paulo Junqueiro fizeram o trabalho. A gravação foi feita no estúdio “Nas nuvens”, no Rio de Janeiro.

"Farto do rock and roll" tem um peso impressionante. A música surgiu de um riff criado pelo baixista Gaspa. Scandurra escreveu os versos que falavam de "outros sons, outras batidas, outras pulsações". Nasi achou ofensivo demais, não quis cantar a letra e pediu para o guitarrista assumir os vocais. Nasi fez as vezes de DJ na música, fazendo scratches. Scandurra confessou mais tarde que sua intenção era dar um toque em Nasi e André, envolvidos até o talo com a produção hip-hop da época.
O disco vendeu apenas 50 mil cópias, 200 mil a menos que o seu antecessor, o não menos clássico “Vivendo e não aprendendo”.

Psicoacústica passou por alguns problemas estranhos. A letra de "Receita para se fazer um herói" foi escrita por um ex-colega de exército de Scandurra, o soldado Esteves. Ele saiu nos créditos, mas acabou ameaçando embargar o disco se uma quantia absurda não lhe fosse paga pela autoria da letra. Ao mesmo tempo, uma leitora da antiga revista de música BIZZ estava acusando o Ira! de plágio, pois tinha lido a letra de "Receita para se fazer um herói" em um livro de história. Coisas dos anos 80... A confusão terminou quando a viúva do escritor português Reinaldo Edgar de Azevedo e Silva Ferreira, o verdadeiro dono do poema, foi encontrada.

Nasi procurou o cineasta Rogério Sganzerla para a liberação das frases de seu filme de estréia, O bandido Da luz vermelha, para as faixas "Rubro Zorro” e "Pegue essa arma”. O diretor concordou, colocando como condição dirigir um clipe para a banda. A gravadora topou, mas Sganzerla pediu muito dinheiro, e, como a gravadora desistiu, ele passou a ligar para Nasi de madrugada ameaçando embargar a obra...

O disco acabou colocando o Ira! meio de lado na mídia por não ser tão “acessível” para as rádios. Nasi afirma que que a decisão foi acertada: "Faríamos tudo de novo, nunca achamos que tínhamos dado uma bola fora”.


Postado por Marcos Assis | | Posted On quarta-feira, 11 de maio de 2011 at 03:23



Álbum – The Piper At The Gates Of Dawn
Artista – Pink Floyd
Ano de lançamento - 1967


Com letras que falam sobre espantalhos, gnomos, bicicletas e contos de fadas, tendo como base um instrumental poderoso e muito bem arranjado, The Piper at the Gates Of Dawn, álbum de estréia do Pink Floyd, é um dos marcos da história da música. O álbum foi gravado no Abbey Road Studios, onde os Beatles, no mesmo período, estavam gravando o mega clássico Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band. Consta que os integrantes de cada banda iam espionar o que a outra estava fazendo.

Regado a LSD, o psicodelismo criado pelo Floyd é fantástico. Teclados, guitarras, baixo, bateria e vozes são mergulhados em echos, delays, reverbs e experimentações que levam o ouvinte, literalmente, a uma “viagem”.
O título do álbum é baseado no conto infantil “O vento nos salgueiros”, de Kenneth Grahame, onde o rato e a toupeira, enquanto procuram um animal perdido, têm uma experiência religiosa. O flautista, piper em inglês, é identificado com o deus grego Pan.
Nesse disco a influência de Syd Barret, o gênio louco do Floyd, é decisiva. As improvisações tornam certas partes das músicas autênticas jam sessions, explorando a criatividade de cada músico livremente, tudo porém, dentro de uma ordem harmônica.
Astronomy Domine abre os trabalhos, com uma bateria marcada e preenchida por vocais sobrepostos e sons espaciais, característica do Floyd, e de David Gilmour principalmente.

Interstellar Overdrive tem 10 minutos de lisergia, levando o ouvinte a um passeio sideral. A música ganhou até uma versão do grupo brasileiro Violeta de Outono, o maior expoente do pscicodelismo em terras tupiniquins.

Barret é considerado até hoje, a mente brilhante por trás do Floyd no começo da carreira da banda. Mesmo depois da sua saída, ele continuou sendo o foco do universo do Floyd. Shine On You Crazy Diamond - Brilhe seu diamante louco -, do álbum Wish You Are Here, de 1975, é uma homenagem ao eterno ex companheiro: “Lembre-se de quando você era jovem. Você brilhava como o sol. Continue a brilhar, louco diamante. Agora há um olhar em teu rosto. Como buracos negros no céu. Continue a brilhar, louco diamante. Você foi pego no fogo cruzado, entre a infância e o estrelato, arrastado pela brisa de aço. Vamos, alvo de risos distantes. Vamos, estranho, lenda, mártir, e brilhe! Você buscou alcançar o segredo cedo demais. Você quis o impossível...”.

Após os seu “colapso mental”, devido ao uso extremamente excessivo de drogas, LSD principalmente, a banda foi capitaneada por Roger Waters e David Gilmor, fantásticos compositores, mas sem a loucura de Barret.

The Piper At The Gates Of Dawn é uma espécie de “disco perdido” do Floyd. Ao pensar na banda, automaticamente, todos se lembram de Dark Side Of The Moon e The Wall. Mas seu disco de estréia uniu a competência técnica e atmosférica do grupo à genialidade louca de Barret.
Uma combinação única e perfeita.

Postado por Marcos Assis | | Posted On segunda-feira, 9 de maio de 2011 at 05:11



Artista – Ride
Álbum – Nowhere
Ano de lançamento - 1990


Barulho, microfonia, melodia e melancolia. No final dos anos 1980, começo dos anos 1990, a união desses elementos trazia ao rock uma nova vertente. O “shoegaze”, algo como “olhar para os sapatos”, foi um apelido dado às bandas que tocavam de forma “tímida”, olhando para baixo. Essas bandas foram influenciadas fortemente pelo Velvet Underground, que antecipou nos anos 1960, boa parte da música que é feita hoje.

O choque que Nowhere causou nos amantes da música underground foi avassalador. Só os escoceses do Jesus and Mary Chain, nos álbums Psychocandy e Darklands, foram tão precisos ao mesclar melodia e “barulho”.

O disco é um dos marcos da música dos anos 1990. Vapour Trail, com sua orquestração belíssima, Paralyzed com seus picos de fúria em meio a uma psicodelia digna dos anos 60, Seagull com sua melodia “alegre” recheada de inserções de guitarras distorcidas, quase sem fim, são preciosidades que, na época, estavam envoltas num cenário musical que era um mar de música eletrônica de quinta categoria. O ruído de uma multidão que se ouve no fundo de Paralysed é um tumulto que estava acontecendo fora do estúdio... Truques de gravação. Às vezes você aproveita algo inusitado que acaba se tornando genial dentro de uma música.
O som etéreo, atmosférico, casa perfeitamente com o “wall of sound” das guitarras da banda. O Ride definiu um estilo próprio em Nowhere, fazendo com que se tornasse um daqueles álbuns que definem um movimento.

A gravadora Rhino Handmade acabou de lançar uma edição especial de 20 anos do lançamento de Nowhere. O CD traz o material original remasterizado, mais 7 faixas bônus e um segundo álbum contendo um show ao vivo no The Roxy in Los Angeles, gravado no dia 10 de abril de 1991. Um livreto de 40 páginas com fotos exclusivas e uma resenha feita pelo crítico musical Jim DeRogatis também acompanham o pacote.

O Ride foi, talvez, o maior representante de uma época muito criativa das bandas inglesas. No mesmo caldeirão estavam Soup Dragons, My Bloody Valentine, Jesus and Mary Chain e Charlatans, entre outros. Depois dessa cena inglesa, na época chamada de Indie Rock, que era o verdadeiro som underground, o rock inglês não produziu nada tão criativo.

Nota de esclarecimento

Postado por Marcos Assis | | Posted On at 05:03

Desculpem a demora em atualizar o blog. Não foi por falta de releases.
O que aconteceu: O site onde eu criava as playlists retirou o recurso de adicionar urls, impossibilitando a criação dos players que eu postava.
Estou pesquisando outro site que aceite urls para criar as playlists. Enquanto não encontro, irei postar só os releases dos álbuns.
Um abraço à todos.

Postado por Marcos Assis | | Posted On domingo, 9 de janeiro de 2011 at 18:43



Artista – Solitude Aeturnus
Álbum - Through The Darkest Hour
Ano de lançamento - 1994


O Doom Metal é um estilo para “iniciados”. Falando de trevas, escuridão e morte, o Doom apaixona ou afasta. O Doom Metal fala da realidade, do mundo obscuro em que vivemos. O ideal hippie de paz e amor pode funcionar, mas não com o ser humano. É só olhar em volta e ver se é possível achar algo bom na humanidade atualmente. Vai ter que procurar muito... Essa é a essência do Doom.
O Solitude Aeturnus é, ao lado do Candlemass, a maior expressão do gênero. Esta é uma das bandas que deveria ter muito mais respeito e espaço na mídia mundial, mas que fica relegada aos apreciadores da boa música.
A base sonora do Solitude é poderosa. A afinação baixa, que por si só já torna o som sinistro, faz a complexidade das melodias e riffs servirem de fundo para a voz fantástica de Rob Lowe.
A banda tem vários bons trabalhos como “Into The Depths Of Sorrow” e “Downfall”, mas “Through The Darkest Hour” é o mais consistente. A fórmula de peso e cadência do Doom Metal poucas vezes foi tão bem explorada como nesse álbum. Mesclando riffs poderosos com momentos de levadas lentas, o Solitude criou uma marca dentro do estilo.
Rob Lowe, hoje cantando no Candlemass, tem um vocal sóbrio e entonadíssimo. Atrevo-me a dizer que Lowe combina muito mais com o Solitude do que com o Candlemass, tamanha a junção que sua voz alcança junto ao instrumental da banda.
As guitarras são graves e bem colocadas, não exageram em nenhum momento, seja nas bases e riffs, nos dedilhados soturnos ou nos solos.
“Haunting the Obscure” pega você pela mão e te leva ao reino das sombras: “Figuras de esmeralda brilhando na escuridão. Quarenta almas estão presas na pedra. Mil olhos abertos para ver. Os lobos da ruína me devoram. Corações morrendo de vozes desconhecidas. Deixe minha esperança sob as estrelas caídas. Seus ecos batendo, apenas a dor. Seus lábios vermelho sangue chamam meu nome”. Belíssimo.


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Postado por Marcos Assis | | Posted On quarta-feira, 5 de janeiro de 2011 at 01:42



Artista – The Sisters Of Mercy
Álbum – First And Last And Always
Ano de lançamento - 1985


Andrew Eldrich é a “encarnação das trevas”, ou quis se colocar nessa posição enquanto esteve à frente do Sisters of Mercy. Óculos escuros, uma bengala estilizada, roupas pretas e uma voz grave e sinistra.
Eldrich era o mentor e criador da banda, ou, em bom português, o dono da mesma. Ele estudava Letras em Oxford, e, ao conhecer o guitarrista Gary Marx e descobrir que ambos tinham o mesmo gosto musical, os dois decidiram montar uma banda. O nome The Sisters of Mercy foi escolhido a partir de uma música de Leonard Cohen chamada, é claro, Sisters of Mercy. Um fato curioso do Sisters é que eles não tinham baterista. Isso ficava a cargo de um certo Doctor Avalanche, nada mais, nada menos que uma bateria eletrônica Oberheim DMX.
Na banda estavam dois talentos da música sombria que depois sairiam para formar um dos ícones do estilo, o The Mission. Wayne Hussey e Craig Adans faziam parte do que é considerada a formação clássica da banda. First And Last And Always, seu é o disco de estréia, e sem dúvida, o melhor trabalho dos caras. O ambiente sombrio criado pelas camadas de teclados e guitarras fazem o fundo para a voz cavernosa de Eldrich desfilar seu repertório de elementos trevosos.
Ali estão clássicos do mundo gótico como “Black Planet” e “Walk Away”. Em “Marian”, o senhor das trevas mostra como é uma canção de amor ao estilo Eldrich: “Eu ouço você chamando Marian. Através da água, através da onda. Eu ouço você chamando Marian. Você pode me ouvir te chamando. Salve-me, salve-me, salve-me da sepultura Marian”.
Durante a turnê do disco, Wayne Hussey se desentendeu com Eldrich, pois queria mais espaço na banda para compor e cantar. Ao final da turnê, num show no Royal Albert Hall em Londres, Eldrich se despediu do público, dando sinais de que o Sisters encerraria suas atividades. Como a guerra de egos era muito grande, Wayne e Craig saem da banda. Sobre as divergências, Andrew chegou a declarar para imprensa: "Eles me perguntaram: O que vamos fazer pelas novas canções? Eu disse: Que tal isto, isto e isto? Mas, infelizmente, o primeiro “isto” que eu citei tinha muitos acordes por minuto e Craig não quis tocá-lo". Hussey disse que depois de sua saída do Sisters, Eldrich reformulou seu pensamento sobre as composições: "A maioria das canções que estamos tocando no The Mission são canções rejeitadas por Eldritch para o segundo álbum dos Sisters. Isso é irônico, porque atualmente ele vê nossos shows e me diz que elas são muito boas".
Após este fato, foram cinco anos de rivalidade e disputas jurídicas. Em princípio ambas as partes concordaram que não usariam o nome The Sisters Of Mercy. Porém, Hussey e Craig decidem usar um nome que os associasse ao Sisters of Mercy.
O nome escolhido era The Sisterhood e a dupla chegou, algumas vezes, a se apresentar ao vivo. Andrew Eldritch sentiu-se lesado ao ver que o antigo companheiro havia "quebrado o acordo de cavalheiros". Além disso, Sisterhood também era o nome do fã clube do The Sisters of Mercy. Assim, Andrew rapidamente registrou o nome e em seguida lançou um single, Givin Ground, e o álbum, Gift (Veneno, em alemão), no qual se encarregou apenas da programação eletrônica. A disputa pelo nome terminou nos tribunais e a dupla Hussey e Graig teve de batizar sua nova banda como The Mission.
A banda The Sisters of Mercy com sua nova formação, com Andrew, a baixista Patricia Morrison e o célebre Doktor Avalanche, voltou à ativa em 1987, com o álbum Floodland, mas isso é outra história.
Dessa época fica a fantástica reunião de dois dos maiores talentos da música Dark, ou gótica para os mais moderninhos, que resultou num dos maiores álbuns do estilo.


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Postado por Marcos Assis | | Posted On quarta-feira, 22 de dezembro de 2010 at 02:19



Artista - Lloyd Cole And The Commotions
Álbum – Rattlesnakes
Ano de lançamento - 1984


O pop perfeito. Nos anos 80 essa era a busca das bandas e dos críticos musicais. Quem se aproximaria mais do Santo Graal da música, a combinação perfeita entre melodia, ritmo e peso?
Uma das bandas que chegaram muito perto desse conceito foi o Lloyd Cole And The Commotions. Sobre belas levadas de violões, climas de teclados e guitarras milimetricamente colocadas, Cole desfilava seu vocal único, meio rouco, meio boêmio, hipnotizante.
O som do Lloyd tem muito de folk, uma certa aura de trovador medieval. As levadas no violão com sua voz mantendo uma linha melódica característica são belíssimas.
Desafio você a me mostrar algo mais bonito e tocante que “Are you ready to be, heartbroken?” na cena musical de hoje. Não existe. O som era puro, no real significado da palavra.
Rattlesnakes foi o álbum de estréia da banda, e talvez o melhor. Cole era um estudante de filosofia na Universidade de Glasgow, na Escócia. Apaixonado por literatura, ele buscou colocar todas as suas referências nas letras. Em Perfect Skin, ele canta bem mais rápido que a melodia da música para que a letra coubesse nos compassos. Falando de amor, nostalgia, decepções, Cole também tinha um senso de humor oculto nas canções.
Lloyd Cole é a “cara” da banda, o mentor, o criador, mas o guitarrista Neil Clark faz o fundo para os vocais melancólicos de forma sublime. Dedilhados ao violão, bases tranqüilas somente acompanhando o vocal, frases de guitarra econômicas e melodicamente fantásticas, tudo isso fazem a atmosfera do álbum ser fantástica. A banda ainda contava com Blair Cowan nos teclados, outro que criava climas perfeitos para as músicas, Lawrence Donegan no baixo e Stephen Irvine na bateria.
Paul Hardiman, o produtor do disco, se isolou com o grupo por seis semanas e conseguiu um trabalho notável. "Eu me lembro que quando ouvi as gravações fiquei espantado e me perguntando, é tão fácil assim fazer um bom disco? Porque ele foi muito fácil de ser feito, na verdade. O solo de Neil em Forest Fire era algo inacreditável. Eu fiquei maluco também com Are You Ready to Be Heartbroken?, conta o baixista Lawrence Donegan. A letra diz "Você está preparado para ter o coração quebrado? Você está pronto para sangrar?".
Hoje os tempos são outros. Não se fala mais em “pop perfeito”. Talvez por o pop de hoje seja um lixo, comercial e descartável.
Mas se algum dia essa busca embriagou críticos e bandas, Cole e seus Commotions chegaram muito perto de conseguir. Talvez tenham conseguido...


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