Postado por Marcos Assis | | Posted On sábado, 12 de setembro de 2009 at 06:10



Artista – Hojerizah
Álbum – Pele
Ano de lançamento - 1987

O underground brasileiro sempre produz bandas fantásticas, que vivem na obscuridade, fazendo música de excelente qualidade. Longe do “grande público”, essas bandas possuem um seleto grupo de fãs que ajudam a manter esse legado vivo.
O Hojerizah tinha um som extremamente refinado. O guitarrista Flávio Murrah é um dos maiores músicos que esse país já produziu. Dono de uma técnica apurada, Murrah transitava entre o rock e a música clássica na construção das melodias da banda. Com dedilhados intercalados com frases mais viscerais, sua guitarra dava, ao mesmo tempo, o clima e o peso que as músicas pediam. E dar peso numa canção, usando, praticamente, somente modulações, chorus e delay, não é para qualquer um. Sua guitarra era uma extensão da voz de Toni Platão. Com um vocal empostado, indo das notas graves até as mais agudas com tranqüilidade, Platão era um dos vocalistas mais técnicos do rock brasileiro, seguramente o de melhor voz. O baixista Marcelo Larrosa fazia a cozinha da banda junto com o baterista Álvaro Albuquerque. Os dois eram fiéis escudeiros dos devaneios de Murrah. Com criatividade, Larrosa acompanha, em muitos trechos, as linhas melódicas da guitarra, dando mais corpo para as músicas. Álvaro usa a bateria de forma muito bem colocada, inserindo peso nos momentos certos.
Murrah, independente de todo o seu talento e virtuosismo, sempre viveu envolto em problemas com álcool e desequilíbrios psicológicos. Inevitável a comparação com o gênio do Pink Floyd, Syd Barret. Os dois produziram pouco em quantidade, mas de forma grandiosa em qualidade. As letras da banda, assim como as músicas, são compostas por ele, algumas em parceria com Toni Platão. Todas seguem a linha de imagens metafóricas, que crescem junto com as melodias.
“Gritos” faz transparecer toda a técnica do guitarrista. “Ouço gritos, de onde vêm os gritos? Bordam risos, espaços e abrigos. Louvam sinos, por quem que ardem os sinos? E cantam hinos da pátria dos vencidos. Tocam um louco final, que faz o unir de punidos mortais ,e o que o som dirá?”. Murrah musicou um poema do poeta francês Jean Arthur Rimbaud , “Canção da torre mais alta”: “venha, venha o tempo que nos enamora. De pacientar, para sempre esqueço. Temores e dores, aos céus já se foram. E a sede malsã me obscurece as veias. Venha, venha o tempo que nos enamora. Assim a campina entregue ao olvido, extensa, florida de incenso e de joios, ao zumbir sinistro das moscas imundas. Venha, venha o tempo que nos enamora”. Vale lembrar que a palavra "olvido" significa descanso, repouso, esquecimento.
Larrosa, falando desse lado teatral e poético da banda, declarou numa entrevista para o Jornal do Brasil, em 1999: “naquela época todo mundo lia muito, haviam todos aqueles lançamentos da Brasiliense...”. Flávio Murrah comentou, na mesma entrevista, sobre as influências que caracterizavam o som do Hojerizah: “a gente não tinha referência de nada do que estava sendo feito no rock. O Hojerizah chegava no Western (bar carioca onde os Paralamas do Sucesso estrearam) falando de bebida, depressão e sexo, A gente tinha dificuldade de apresentar nosso trabalho, hoje seria mais fácil", acredita Murrah.
Ouvir o Hojerizah é como degustar um bom vinho. Aliás, fica a sugestão: abra um vinho, coloque o CD pra tocar e aprecie a união de música e letra que a banda faz de forma genial. Você não vai encontrar nada com essa qualidade feito no rock brasileiro hoje em dia...


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Postado por Marcos Assis | | Posted On quarta-feira, 9 de setembro de 2009 at 07:00



Artista – Marisa Monte
Álbum – Verde anil amarelo cor–de–rosa e carvão
Ano de lançamento - 1994

Marisa Monte é dona de uma voz fantástica. Herdeira das alma luminosas das melhores cantoras que esse país já teve, como Elis Regina, Dalva de Oliveira e Ângela Maria, Marisa apareceu do nada e, com apenas dois discos, conquistou o público e a crítica com sua interpretação doce, afinada e bem colocada. Cantando em bares no Rio de Janeiro, com um repertório regado a jazz e MPB, a menina acabou sendo descoberta pelo produtor Nelson Mota, que passou a produzir seu show Veludo Azul. Ela foi uma das únicas, ao menos que eu conheça, a gravar um disco de estréia ao vivo. Normalmente os artistas ou bandas só lançam um disco ao vivo depois de algum tempo de carreira, Marisa fez o inverso.
Cor–de–rosa e carvão é harmonicamente perfeito, com uma combinação limpa de violões, guitarras, baixo e percussão, fazendo a “cama” para a voz de Marisa. As músicas são parcerias com Arnaldo Antunes, Nando Reis e Carlinhos Brown, além de covers. O trabalho conta com o baixista Arthur Maia, um dos mais requisitados baixistas do Brasil, (tocou com Caetano Veloso, entre outros), Marcos Suzano na percussão, considerado um dos maiores percussionistas do mundo, (tocou até com David Bowie), Naná Vasconcelos, o mestre da percussão mundial, considerado o maior de todos,são alguns dos craques que participam do disco. Como se não bastasse, ainda fazem participações especiais, Paulinho da Viola, legenda do samba brasileiro, a Velha Guarda da Portela, senhores que levam no seu sangue boa parte da história do samba desse país e a americana Laurie Anderson, multi-instrumentista, artista plástica e ex-mulher de Lou Reed.
Cercando-se não de mestres, mas de mitos dessa grandeza, era esperado que o CD tivesse o mesmo brilho de seus participantes.
A sua versão para Pale Blue Eyes, do Velvet Underground, é quase uma canção de ninar, tal a delicadeza do violão acompanhando Marisa. Vale lembrar que regravações são sempre duvidosas, ainda mais de clássicos, mas a canção manteve sua qualidade. Balança Pema, de Jorge Ben, trás a percussão pegada de Marcos Suzano, a bateria de Jorginho Gomes e o baixo de Arthur Maia. Marisa divide os vocais com Gilberto Gil, quer mais?
Alta noite é daquelas músicas que a gente ouve o dia todo, sem cansar. A letra é de Arnaldo Antunes, com seu característico jogo de palavras. “Alta noite já se ia, ninguém na estrada andava. No caminho que ninguém caminha, alta noite já se ia. Ninguém com os pés na água...”
Dança da solidão, de Paulinho da Viola, é um daqueles sambas clássicos, fortes. A letra fala sobre desilusões, amores perdidos, com a pureza da poesia de Paulinho. “Solidão, palavra. Cavada no coração. Resignado e mudo. No compasso da desilusão... Viu! Desilusão, desilusão. Danço eu, dança você.Na dança da solidão...”.
O trabalho é um alquimia de talentos fantásticos, unidos por uma voz. Marisa continua fazendo boa música, se cercando dos mesmos parceiros. Mas esse álbum talvez seja inigualável em sua carreira.


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Postado por Marcos Assis | | Posted On segunda-feira, 7 de setembro de 2009 at 20:02



Artista – Sepultura
Álbum – Roots
Ano de lançamento - 1996

Brasil, terceiro mundo, terra do samba e do futebol. Você imaginaria que o mundo, algum dia, ouviria heavy metal feito por essas plagas sambistas?
Pois é, o Sepultura colocou o metal brasileiro nos ouvidos dos bangers de todo o planeta.
Lançado em 1996, Roots seguiu o sucesso que foi o Cd anterior, Chaos A.D, mas com uma mudança fundamental no som da banda. O metal é mundo meio fechado, onde seus músicos e adeptos gostam das coisas puras, sem muita invenção ou inovação. A banda fez algo que os fãs de metal não vêem com bons olhos: teve a ousadia de misturar outros elementos no seu thrash/metal tradicional. Roots faz uma mescla de ritmos brasileiros, como batidas de samba na caixa da bateria, um ritmo mais lento e cadenciado, afinações bem mais baixas que o normal, dando mais peso as músicas, (a afinação normal das cordas, guitarra e baixo, é feita pela nota lá, o Sepultura baixou a afinação para Si, tornando as bases mais graves e assim mais pesadas). O percussionista baiano Carlinhos Brown participou de várias faixas do disco, tocando percussão. Na cabeça de um fã de heavy metal isso era uma heresia...
A primeira música do disco é Roots Bloody Roots, um petardo, onde a afinação baixa das cordas já dá seu cartão de visita, com um peso espetacular. A seguinte, Attitude, segue a mesma linha de peso e cadência. Ratamahatta, com participação de Carlinhos Brown na percussão e nos vocais, tem um clip fantástico, feita com animação de bonecos. Mas o momento mais inesperado de Roots é a gravação que a banda fez numa tribo Xavante no Mato Grosso. A música Itsári trás uma batida tribal feita com os pés pelos índios da tribo, e somente um violão tocado por Andreas. Os vocais são um canto da tribo num de seus rituais.
Max tinha acabado de perder seu enteado Dana Wells, assassinado em circunstâncias misteriosas. No fim de 1996, a banda cancelou alguns shows por conta disso, e acabou tocando no tradicional festival em Donnington Park, na Inglaterra, como um trio, com o guitarrista Andreas Kisser nos vocais.
Max sairia da banda pouco tempo depois do lançamento de Roots. Sua mulher, Gloria, era também a empresária da banda, e os outros membros não estavam satisfeitos com os rumos que os negócios do Sepultura estavam tomando. Max acabou saindo e formando o Soulfly, onde toca até hoje. Ficou claro que Max era o mentor do som do Sepultura, pois, após sua saída, ele continuou fazendo a mesma linha de som no Soulfly, e o Sepultura, ao contrário, nunca mais foi o mesmo.
Depois de muitos anos sem se falarem, Max e Igor retomaram sua parceira na banda Cavalera Conspiracy. Rumores sobre uma possível volta do Sepultura com sua formação original circulam constantemente. Aos fãs, resta a esperança de que a banda volte com a mesma química que conseguiram em Roots, o que seria fantástico para o metal.


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Postado por Marcos Assis | | Posted On sexta-feira, 4 de setembro de 2009 at 21:22



Artista - The Smiths
Álbum - The Queen Is Dead
Ano De Lançamento - 1986

A rainha está morta! Quando os primeiros acordes do disco tocam seus ouvidos, ou seu coração, o impacto é direto. No seu melhor trabalho, o guitarrista Johnny Marr e o vocalista e letrista Morrissey, criaram pérolas que só parcerias muito talentosas conseguem produzir, como Lennon/McCartney ou Jagger/Richards. A crítica á sociedade inglesa e a Família Real, além da característica forma de Morrissey falar da solidão, dão o tom do disco.
Marr estava tendo problemas com alcoolismo, havia desentendimentos entre a produtora Rough Trade e o grupo (o que fez com que o lançamento do álbum fosse adiado por quase oito meses), o baixista Andy Rourke havia sido dispensado por problemas com heroína, sendo substituído temporariamente por Craig Gannon e Morrissey era taxado por seus críticos como um músico cada vez mais "egocêntrico e mal-humorado", provavelmente por sua conhecida aversão a videoclipes e entrevistas.
Em The Queen is Dead, que abre o disco, Morrissey critica ferozmente a Família Real britânica, insinuando sua omissão e distanciamento quanto aos problemas que a sociedade vivenciava. “Passamos pelo bar que aniquila seu corpo. E a Igreja - tudo o que querem é seu dinheiro. A Rainha está morta, garotos. Vocês podem acreditar em mim, garotos. A vida é muito longa quando se está sozinho...”
Frankly, Mr. Shankly possui uma sonoridade mais descomprometida, quase engraçada. Comenta-se que sua letra foi inspirada nas divergências entre os Smiths e a Rough Trade.
I Know It’s Over é belíssima. Seus versos melancólicos, revelam muito sobre Morrissey: “Oh Mãe,posso sentir o chão caindo sobre minha cabeça. E enquanto me deito numa cama vazia, oh bem, já foi dito o bastante. Eu sei que acabou,mas continuo insistindo. Não sei mais aonde posso ir. Oh Mãe,posso sentir o chão caindo sobre minha cabeça”.
Cemetry Gates tem a cara dos Smiths, ma levada no violão e a ironia da letra: “um tenebroso dia ensolarado, então eu encontro você nos portões do cemitério. Keats e Yeats estão do seu lado, enquanto Wilde está do meu”.
Bigmouth Strikes Again e The Boy With the Thorn in His Side são dois dos maiores clássicos do Smiths e fizeram muito sucesso nas rádios brasileiras na época, (sim as rádios brasileiras tocavam rock de qualidade). Em Curitiba, a saudosa rádio Estação Primeira, a "maldita" e melhor rádio que já se ouviu nessas terras gélidas, executava exaustivamente as duas músicas. Era possível ouvir até na rádio Caiobá FM! Acredite...
There is a Light That Never Goes Out é o ponto alto do álbum. Morrissey toca essa música nos seus shows até hoje. No DVD Who Put the M in the Manchester, a música fecha o show, cantada em coro por 30.000 pessoas. O eterno solitário Morrissey, fã ardoroso de James Dean, James Joyce e afins, desfila seu lirismo numa das mais belas canções já compostas neste mundo sinistro. “Me leve para sair esta noite, onde exista música e pessoas que sejam jovens e vivas. Dirigindo seu carro eu nunca nunca quero ir para casa, porque eu não tenho mais uma casa...”
Morrissey continua na ativa, fazendo boa música.
Os Smiths lançaram grandes álbuns como Meat is murder e The World Won´t Listen, mas The Queen is Dead é sua obra prima.
Indispensável!


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